Número de desempregados recua 5,3% do primeiro para segundo trimestre

Houve queda de 723 mil pessoas na população desocupada

O número total de desempregados no país caiu de 13,7 milhões no primeiro trimestre deste ano para 13 milhões no segundo trimestre. Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C), divulgados hoje (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de um trimestre para outro, houve uma queda de 723 mil pessoas na população desocupada, ou seja, de 5,3%.

Na comparação com o segundo trimestre do ano passado, também houve queda: 520 mil pessoas ou 3,9%.

Marcello Casal/Arquivo/Agência Brasil

A taxa de desemprego foi outro indicador que apresentou queda nesta edição da PNAD-C de 13,1%, no primeiro trimestre, para 12,4% no segundo trimestre do ano. No segundo trimestre do ano passado, a taxa era de 13%.

A população ocupada ficou em 91,2 milhões de pessoas, crescimentos de 0,7% (mais 657 mil pessoas) em relação ao trimestre anterior e de 1,1% (mais 1 milhão de pessoas) na comparação com o segundo trimestre de 2017.

Informalidade

Apesar disso, o crescimento do contingente de ocupados foi puxado pelos trabalhadores sem carteira assinada e aqueles que trabalham por conta própria. O número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado, de 32,8 milhões, manteve-se estável em relação ao primeiro trimestre e caiu 1,5% (menos 497 mil pessoas) na comparação com o segundo trimestre de 2017.

O número de empregados sem carteira (11 milhões) cresceu 2,6% (mais 276 mil pessoas) em relação ao trimestre anterior e 3,5% (mais 367 mil pessoas) em relação ao segundo trimestre do ano passado.

A categoria dos trabalhadores por conta própria (23,1 milhões de pessoas) ficou estável em relação ao trimestre anterior e cresceu 2,5% (mais 555 mil pessoas) na comparação com o segundo trimestre de 2017.

Setores

Entre os dez grupamentos de atividades da economia, apenas dois tiveram crescimento nos postos de trabalho em relação ao primeiro trimestre: indústria geral (2,5%) e administração pública, defesa, saúde e educação (3,8%). Os demais setores mantiveram-se estáveis.

Na comparação com o segundo trimestre de 2017, também houve aumento em dois setores: administração pública, defesa, saúde e educação (3,7%) e outros serviços (6%).

Rendimento

O rendimento médio real habitual ficou em R$ 2.198 no segundo trimestre deste ano, relativamente estável tanto em relação ao trimestre anterior quanto na comparação com o segundo trimestre do ano passado.

Fonte: Agência Brasil Rio de Janeiro
Repórter: Vitor Abdala
Foto: Marcello Casal/Arquivo/Agência Brasil
Edição: Maria Claudia

Diversidade de atrações e de espaços marca a Flip 2018

Flip gerou impacto econômico de R$ 47 milhões para o país, diz MinC

Zedu Moreau/Flip/Direitos reservados/Agência Brasil

A intensa programação oferecida na 16ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), realizada de 25 a 29 de julho, no litoral sul do Rio de Janeiro, foi um desafio neste ano para os visitantes. Com a triplicação do número de casas parceiras e eventos paralelos, houve atrações para todos os gostos e o público também pode assistir gratuitamente a encontros de autores de diversas nacionalidades no palco principal.

A final do encontro, a Agência Brasil reuniu detalhes da festa, que desta vez homenageou a autora paulista Hilda Hilst (1930-2004), considerada uma das maiores escritoras da língua portuguesa. A Flip reuniu momentos de debates políticos e em defesa de causas sociais e culturais.

A seguir, alguns dos momentos que chamaram a atenção do público:

Yanomami

Um dos destaques da programação e maior parceira da Flip, reunindo 50 atrações, o Serviço social do Comércio (Sesc) promoveu, no sábado (28), a mesa Yanomami para Sempre, no Sesc Caboré. O debate reuniu o líder yanomami Davi Kopenawa e a fotógrafa suíça Claudia Andujar, que fotografou a etnia durante os anos 1970 e 1980 e produziu um trabalho extenso que está exposto em uma galeria em Inhotim, Minas Gerais. Durante a Flip, o Sesc apresentou parte das fotos em Paraty, na exposição Yano–a.

“Foi o trabalho mais importante da minha vida e até hoje é uma experiência que me toca muito”, disse a fotógrafa. “Desenvolvi um trabalho intimista sobre seu cotidiano. Agora, depois de quase quatro décadas de empenho quase que exclusivo na defesa de seus direitos, sinto a necessidade de mostrá-lo para o Brasil e o mundo.”

Educação em debate

Antes das 9h do dia 26, uma fila enorme se formou em frente à Casa Folha, para assistir à Diversidade de atrações e de espaços marca a Flip 2018 sobre educação. Na mesa, o ex-ministro e professor da Universidade de São Paulo (USP) Renato Janine Ribeiro relatou os desafios que encontrou quando esteve à frente da pasta no período de crise do governo Dilma Rousseff.

O professor defendeu uma educação que estimule o espírito crítico e a criatividade e questionou o projeto Escola Sem Partido, que considerou fruto de medos fantasiosos. “Educar é abrir para o mundo. A escola tem que dar valores diferentes dos que a pessoa aprendeu na religião, família e classe social.”

Sessões lotadas

Novidade deste ano, o Cinema da Praça, inaugurado pela prefeitura de Paraty, também teve muita procura do público. Na programação, foram apresentados filmes do Anima Mundi e do Festival Varilux de Cinema Francês, produções locais e ainda a pré-estreia de Unicórnio, do diretor Eduardo Nunes. Com Bárbara Luz, Patrícia Pillar e Zé Carlos Machado, o filme chegará aos cinemas em agosto.

Antirracismo ovacionado

Bell Puã, Djamila Ribeiro e Selva Almada participam da mesa Amada vida na Flip 2018. – Walter Craveiro/Flip/Direitos reservados

No dia 25, a mesa de debates com a participação da feminista e acadêmica Djamila Ribeiro e da escritora argentina Selva Almada foi ovacionada pelo público. Também recebeu muitos aplausos a poeta pernambucana Bell Puã, que abriu o debate com versos críticos ao racismo e ao machismo, que fizeram parte do público levantar para aclamá-la.

“Não defendo vidraça de banco, defendo gente”, disse Bell, incendiando a plateia com críticas ao encarceramento e ao assassinato da população negra. “Freud explica, mas Criolo e Emicida que escancaram a realidade.”

Hilda

Uma exposição com fotos da poetisa e escritora Hilda Hilst foi um dos destaques da tenda da EDP, patrocinadora da Flip, que produziu festas temáticas sobre os países de língua portuguesa. As imagens fazem parte de um livro que foi lançado neste ano pelo fotógrafo português Fernando Lemos, mas quem esteve em Paraty pôde ver ampliados os retratos da escritora aos 29 anos.

Lava-Jato na Flip

O público da Casa de Não-Ficção Época-Vogue pôde assistir também à entrevista de cerca de uma hora com o juiz federal Marcelo Bretas, que conduz os processos da Lava-Jato no Rio de Janeiro. Ele respondeu a uma série de perguntas polêmicas feitas pelos jornalistas Bernardo Mello Franco e Plínio Fraga, e afirmou considerar que políticos condenados por corrupção não devem ter uma segunda chance na política.

O magistrado também foi questionado sobre o auxílio-moradia que ele e a mulher, a juíza federal Simone Bretas, recebem, apesar de morarem em casa própria. O juiz afirmou que não discute se o benefício é justo, mas destacou que ele é legal, ainda que exista uma recomendação contrária do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). “Se quer mudar, mude-se a lei”, disse.

Mesa Barco Com Asas, na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) – Walter Craveiro/Flip/Direitos reservado

Barco pirata

A Festa Literária Pirata das Editoras Independentes (Flipei) atracou uma réplica de barco pirata na orla de Paraty, onde foram realizadas mesas de debate para o público acompanhar em terra. O espaço surgiu de uma parceria entre 15 editoras e teve debates sobre conjuntura, direitos humanos, democratização da mídia e literatura – incluídas aí discussões dedicadas a Hilda Hilst, literatura de periferias e mercado editorial.

Hilda reencarnada

A atriz Tainá Müller declamou poemas de Hilda Hilst na Casa da Cultura de Paraty, que recebeu a programação da Globo durante a Flip. Ao fim da homenagem, interpretou a própria Hilda Hilst, em uma performance organizada pelo instituto que leva o nome da autora. A atriz interagiu com pessoas que fizeram parte da vida da escritora e convidou o público a declamar mais poemas.

Ocupa Paraty

No Ocupa Paraty, espaço reservado no Areal do Pontal, artesãos, artistas e comerciantes locais mostraram seus trabalhos em diversas tendas montadas no local. Em meio a compotas e peças de artesanato, o destaque foi a Biblioteca Comunitária Cora Coralina, que divulgava o trabalho comunitário no bairro do Condado, na periferia de Paraty.

“As pessoas passam aqui, ficam curiosas e querem comprar os livros. Mas estamos em uma feira e não estamos vendendo quase nada. O interessante é divulgar o trabalho e mostrar que estamos aqui na resistência”, disse a professora Claudia Bianconi, criadora do projeto.

O professor Eduardo Jardim participa da sessão de abertura da Flip 2015 – Festa Literária Internacional de Paraty, com a mesa literária: As Margens de Mário (Tânia Rêgo/Agência Brasil) – Tânia Rêgo/Agência Brasil

Lua de Sangue

Na Flip dedicada à Hilda Hilst, uma autora que tratou da dimensão extracorpórea em sua literatura e até tentou contato com os mortos em sua chácara em Campinas, o eclipse lunar – a chamada Lua de Sangue – que ocorreu no dia 28, ajudou a reforçar o ar mágico e transcendental. O fenômeno ocorreu durante a mesa que reuniu os autores André Aciman e Leila Slimani.

Bloco de carnaval

A noite do dia 27, no Centro Histórico de Paraty, reuniu os sotaques carioca e paulistano em um bloco de carnaval puxado pela Casa Libre de Nuvens e Livros. Com banda e marchinha, o grupo de foliões percorreu as ruas de calçamento irregular e embalou a formação de alguns casais pelo caminho.

Português-Russo

A autora russa Liudmila Petruchévskaia, de 80 anos, escreve sobre terror, mas divertiu o público. Ela participou de uma mesa que contou com a ajuda de seu filho, Fyodor, que fala português e fez a tradução para a autora russa – que não fala português nem inglês – e teve como mediadora, a portuguesa Anabela Mota Ribeiro. Não deu tão certo, mas Liudmila, além de ser uma figura interessante, mostrou simpatia e até cantou. No repertório, teve Besame Mucho.

Marielle Franco

Na mesa em homenagem à veredora Marielle Franco (PSOL-RJ), assassinada em março ao lado do motorista Anderson Pedro Gomes, a pesquisadora Janaína Damasceno leu um documento que surpreendeu muitos dos presentes. Em 1911, o diretor do Museu Nacional, João Batista de Lacerda, participou de um congresso em Londres em que apresentou oficialmente a política brasileira para o embranquecimento da população.

Na projeção, Lacerda previa que o país chegaria a 0% de negros em 2012, mas ainda levaria alguns séculos para eliminar os sinais “negróides” de sua população. “Isso é extremamente didático para a gente entender qual era o plano e qual ainda é o plano do Estado brasileiro para a população negra”, disse a pesquisadora.

A vereadora Marielle Franco defendia causas sociais como o combate ao racismo, ao machismo e a todos os tipos de discriminação.

ABL

A escritora Conceição Evaristo participou de uma série de discussões na programação parceira da Flip 2018. A autora esteve na Casa Insubmissa de Mulheres Negras, na Casa Libre de Nuves e Livros, no Sesc e na Casa Paratodxs. Conceição é uma das cotadas para assumir a vaga de Nelson Pereira dos Santos na Academia Brasileira de Letras (ABL). Por onde passou, recebeu apoio à sua candidatura.

“O primeiro lugar de recepção da minha obra foi o movimento social negro. Quem me colocou nesse espaço e possibilitou a mídia estar interessada em mim foi o movimento social negro”, destacou.

Casa Fantástica

Distopias, realidades alternativas, folclore brasileiro e outros temas reuniram autores e leitores na Casa Fantástica, que marcou presença no Centro Histórico de Paraty. A casa ficou cheia e uma das mesas mais disputadas foi sob afrofuturismo, estética que está cada vez mais popular e combina ficção científica, protagonismo negro e referências africanas.

Copa da África

O escritor franco-congolês Alain Mabanckou não deixou de falar da Copa do Mundo conquistada pela França este ano, na Rússia. Em tom bem humorado, ele arrancou aplausos da plateia. “A África ganhou a Copa do Mundo, não é? A África e a França, porque a França também é África”, disse. Apesar do tom de brincadeira, ele destacou o papel dos imigrantes africanos na sociedade francesa. “Os negros também fizeram a história da França, lutaram pela França contra os nazistas e foram trabalhar na França, depois da Segunda Guerra Mundial.”

Multiculturalismo

A sexta-feira (27) foi um dos dias mais marcantes do multiculturalismo da Flip 2018. Pela manhã, um autor suíço e uma autora italiana de origem somali falaram sobre a experiência de escrever em italiano. À tarde, além do franco-congolês Alain Mabanckou, que leciona em uma universidade americana, debateram em outra mesa uma francesa de origem marroquina e um egípcio radicado nos Estados Unidos, que conversaram sobre tudo. A mediação foi de uma jornalista portuguesa.

Uma fala do autor suíço Fabio Purstela definiu a importância da troca cultural para a poesia na Europa, onde a resistência à imigração ganha adeptos a cada dia. “A história da poesia italiana e europeia começa por um exílio. Dante Alighieri, do século 13, poeta e escritor, foi expulso de sua cidade e teve que vagar pedindo esmola. Se Dante vivesse hoje, seria encontrado no México, tentando atravessar o muro que Trump quer construir. A poesia começou dessa forma e O professor Eduardo Jardim participa da sessão de abertura da Flip 2015 – Festa Literária Internacional de Paraty, com a mesa literária: As Margens de Mário (Tânia Rêgo/Agência Brasil) – Tânia Rêgo/Agência Brasil por isso que ela sempre será nômade.”

Com ou sem luvas?

Considerado um dos maiores especialistas do mundo em manuscritos da Idade Média, o pesquisador britânico Christopher de Hamel divertiu o público no palco principal da Flip, em vários momentos. Ao mostrar fotos suas, de luva, manuseando um dos objetos históricos, ele foi questionado pela mediadora, a historiadora e antropóloga brasileira Lilia Schwarcz, que já havia lido argumentos do autor contra as luvas. Hamel havia afirmado que a proteção pode causar mais danos aos manuscritos do que à pele humana e que a luva só foi colocada para fazer pose pra foto. A risada foi geral.

Fonte: Agência Brasil* Rio de Janeiro
Edição:Repórter: Vinícius Lisboa
Edição: Maria Claudia

Metade dos professores no país não recomenda a própria profissão

K ji

No Brasil, metade dos professores não recomendaria a um jovem se tornar educador, por considerar a profissão desvalorizada, revela a pesquisa Profissão Docente, iniciativa da organização Todos Pela Educação e do Itaú Social.

De acordo com o levantamento feito pelo Ibope Inteligência em parceria com a rede Conhecimento Social, a maioria (78%) dos professores disse que escolheu a carreira principalmente por aspectos ligados à afinidade com a profissão. Entretanto, 33% dizem estar totalmente insatisfeitos com a atividade docente e apenas 21% estão totalmente satisfeitos.

Durante a pesquisa, foram entrevistados 2.160 profissionais da educação básica em redes públicas municipais e estaduais e da rede privada de todo o país, sobre temas como formação, trabalho e valorização da carreira. A amostra respeitou a proporção de docentes em cada rede, etapa de ensino e região do país, segundo dados do Censo Escolar da Educação Básica (MEC/Inep).

Professores dizem que falta continuidade de boas políticas e alinhamento dos programas educacionais com a sala de aula – Arquivo/Agência Brasil

Para o diretor de políticas educacionais da organização Todos pela Educação Olavo Nogueira Filho, os dados são preocupantes. Ele reforçou a necessidade de repensar a valorização da carreira dos professores brasileiros. “Há bastante tempo conhecemos o desafio da desvalorização docente, da falta de prestígio em relação à carreira, mas acho que os novos dados chegam para reforçar e, mais uma vez, mostrar que temos um longo caminho a ser trilhado na educação, no que diz respeito à valorização da carreira”, afirmou.

Formação

Os docentes apontam como medidas mais importantes para a valorização da carreira, a formação continuada (69%) e a escuta dos docentes para a formulação de políticas educacionais (67%). Eles consideram urgente a restauração da autoridade e o respeito à figura do professor (64%) e o aumento salarial (62%).

Para o diretor Nogueira Filho, os números passam relevante mensagem no sentido de desmistificar o senso comum, que coloca a questão salarial como o principal problema para a carreira docente no país.

“O debate, de modo geral, tem colocado ênfase, de maneira quase isolada, na questão salarial. E, de fato, esse ponto surge no conjunto das principais medidas que as pessoas entendem como importantes para valorizar a carreira, mas não aparece na pesquisa como fator principal. Acho que isso traz uma questão importante sobre a discussão da valorização], que precisa ir além da questão do salário.”

A remuneração média dos professores no Brasil atualmente, segundo a pesquisa, é de R$ 4.451,56. A maioria dos docentes (71%) tem a profissão como principal renda da casa e 29% afirmam ter outra atividade como fonte de renda complementar.

Dados mostram que a falta de confiança entre o professor e as secretarias estaduais e municipais de educação é desafio a ser enfrentado – Marcello Casal jr/Agência Brasil

Segundo a pesquisa, um em cada três professores tem contrato com carga horária de menos de 20 horas semanais, o que pode ter impacto na renda e no cumprimento de um terço da carga horária, prevista na Lei do Piso do Magistério para atividades extraclasse. Pelo menos 58% dos professores afirmam ter tempo remunerado fora da sala de aula. Contudo, somente cerca de 30% dos docentes dispõem de aproximadamente ou mais de um terço da carga horária para planejamento de aula.

Políticas públicas

Os professores ouvidos pela pesquisa consideram que é papel das secretarias de Educação oferecer oportunidades de formação continuada (76%), mas não concordam que programas educacionais, como um todo, estejam bem alinhados à realidade da escola (66%). Apontam a falta um “bom canal de comunicação” entre a gestão e os docentes (64%), e dizem que não há envolvimento dos professores nas decisões relacionadas às políticas públicas (72%). Também consideram aspectos ligados à carreira mal atendidos, como o apoio à questões de saúde e psicológicas (84%) e ao salário (73%).

Falta de confiança

Para o diretor de políticas educacionais da organização Todos pela Educação Nogueira Filho, os dados mostram que a falta de confiança entre o professor e as secretarias estaduais e municipais de educação é outro desafio a ser enfrentado. “Uma parcela significativa dos professores diz não acreditar que a secretaria tem lançado mão de políticas que tenham aderência à sua escola e, mais do que isso, mostram descrença com relação ao próprio compromisso da secretaria para com a aprendizagem dos alunos”.

O governo federal anunciou, em fevereiro deste ano, o aporte de R$ 1 bilhão para a Política Nacional de Formação de Professores, com objetivo de financiar 190 mil vagas em três diferentes iniciativas para formação docente: o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), o Programa de Residência Pedagógica e a Universidade Aberta do Brasil (UAB).

“São políticas que apontam no sentido correto e desejável, mas, considerando o tamanho do desafio, é razoável dizer que são insuficientes para, de fato, reverter o cenário que a pesquisa traz no que diz respeito à valorização da profissão, das estruturas da carreira e a qualidade da formação, tanto do ponto de vista inicial quanto continuado”, disse.

O diretor ressaltou a necessidade de mudança estrutural na formação inicial dos docentes. Na sua opinião, o governo federal pode ter papel importante na indução de melhorias a partir da criação de parâmetros de estruturação de carreira que possam ser seguidos pelas secretarias de educação.

Procurados pela reportagem, o Ministério da Educação e o Conselho Nacional de Secretários da Educação (Consed) não se manifestaram até o momento de publicação da matéria.

Fonte: Agência Brasil Brasília/Repórter: Leandro Melito
Edição: Maria Claudia

Tráfico humano: crime começa com promessa de realização de sonhos

Brasil inicia a Semana de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

Nem sempre o tráfico de pessoas ocorre de forma forçada. Na maior parte das vezes, o crime começa com a promessa de realização de um sonho: um pedido de casamento que pode mudar a vida de mulheres, a oferta de um emprego ou a chance de seguir a carreira de modelo ou de jogador de futebol. Só quando o sonho vira pesadelo é que as vítimas percebem que foram alvos de aliciadores, dizem autoridades que atuam no combate a essa prática. A dificuldade em perceber a prática do crime desde a origem tem sido um dos principais desafios no enfrentamento ao tráfico humano.

A coordenadora de gestão da política nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas do Ministério da Justiça, Marina Almeida, durante a abertura da 5ª Semana de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas – Marcelo Camargo/Agência Brasil

“Muitas vezes as vítimas não se enxergam como vítimas desse crime ou têm medo de denunciar por sofrer represália porque os aliciadores conhecem as famílias. A principal dificuldade hoje é ter dados mais concretos deste crime”, afirmou Marina Bernardes de Almeida, coordenadora de Política de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Ministério da Justiça.

Ao participar hoje (30) da abertura da 5ª Semana de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas que ocorre no Distrito Federal e em vários estados, Marina Bernardes lembrou que esse tipo de ação de conscientização da população e a capacitação de agentes públicos para identificarem os sinais desse crime têm sido uma ferramenta eficiente no combate ao tráfico humano.

No DF, ao longo de todo o dia, a rodoviária interestadual, por onde chegam e partem ônibus para todas as regiões do país, foi invadida por artistas que apresentaram situações de vítimas do tráfico humano. As encenações ocorrem tanto em um palco montado na entrada do local quanto nos corredores, onde é possível se deparar com cenas de mulheres exploradas sexualmente ou com atores se passando por aliciadores e abordando quem passa por ali.

Analista do Programa do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), Fernanda Fuentes lembrou que as maiores vítimas desse tipo de crime são as populações vulneráveis que geralmente têm menos informações e buscam melhoria da qualidade de vida. Fernanda ainda destacou que mulheres e crianças são as principais vítimas dessa prática. Relatório das Nações Unidas confirma o dado ao apontar que 71% das pessoas traficadas são meninas e mulheres.

A analista de programas do escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), Fernanda Fuentes, durante a abertura da 5ª Semana de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas – Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Brasil e a Colômbia são os dois países latino-americanos que recebem apoio do UNODC para enfrentar essa prática através de um programa financiado pelos países da União Europeia para fortalecer a ação de governos locais. Segundo Fernanda Fuentes, um dos maiores desafios no combate ao tráfico humano no país é a diversidade regional que acaba refletindo nos diferentes objetivos que a prática pode adotar dependendo da região em que ocorre.

“O tráfico de pessoas é enfrentado em rede, tanto pelo governo quanto pela sociedade civil. Dependendo de onde ocorre, há objetivos diferentes prevalecendo. Em algumas regiões é o trabalho escravo, em outras a exploração sexual. Por isso é importante a participação de organizações da sociedade civil que podem ajudar a enfrentar o crime dentro do contexto local”, afirmou.

Atrizes fazem performance teatral durante a abertura da 5ª Semana de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, na Rodoviária Interestadual de Brasília – Marcelo Camargo/Agência Brasil

A capital do país, onde ocorrem as ações de conscientização ao longo de toda a semana, é um dos destinos preferidos de aliciadores do tráfico humano interno. Especialista em assistência social do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP) da Secretaria de Justiça do DF, Annie Carvalho, explicou que Brasília ainda surge como promessa de grande oferta de trabalho.

“Tem muitas pessoas que vêm com a promessa de emprego aparentemente promissora, mas chega aqui e sofre exploração da mão de obra ou exploração sexual. Essas são as principais modalidades que a gente vem atendendo”, disse a especialista.

Segundo ela, as autoridades estão mais atentas e por isso o número de denúncias vêm aumentando. “Isto não quer dizer que aumentou o tipo de crime, mas está aparecendo mais”, disse.

Fonte: Agência Brasil Brasília
Repórter: Carolina Gonçalves
Edição: Lílian Beraldo

Polícia Civil investiga denúncia de racismo durante a Flip

A Polícia Civil do Rio de Janeiro abriu nesse sábado (28) um processo de investigação para apurar uma denúncia de discriminação racial contra uma trabalhadora de uma das casas da programação parceira da Festa Literária Internacional de Paraty. O caso foi levado pela vítima à delegacia, mas, segundo a corporação, o delegado titular da 167ª Delegacia de Polícia (Paraty) registrou a ocorrência como fato atípico. O termo significa que a ocorrência não está tipificada criminalmente.

“Segundo o delegado titular, foi realizado um registro de ocorrência de fato atípico, visto que, segundo a autoridade policial, não ficou vislumbrado de plano [no momento do registro de ocorrência] a existência de dolo subjetivo e vontade de injuriar”, diz nota enviada pela assessoria de imprensa da Polícia Civil, que acrescentou que “o caso segue sendo investigado”.

O jornal O Globo noticiou na sexta-feira que Sara Cristina Trajano da Silva, funcionária da editora Patuá, denunciou ter sido discriminada pelo diretor da editora da PUC-SP (Educ), José Luiz Goldfarb. Ambos participavam da programação da Casa do Desejo, espaço parceiro da programação principal.

De acordo com a reportagem, Sara conta que Goldfarb disse que “era por causa de pessoas da cor dela que o mundo estava assim”. O jornal carioca também ouviu o editor, que negou ter dito a frase preconceituosa e afirmou ter criticado o autoritarismo de pessoas progressistas.

Em nota, a Flip se posicionou repudiando “todo e qualquer ato de violência, racismo e discriminação”. “Diante do fato, [a Flip] recomendou aos organizadores da Casa do Desejo que peçam substituição do representante da editora PUC-SP em seu espaço. A organização da festa literária seguirá no acompanhamento do caso nos próximos dias”, completa a nota.

A Casa do Desejo também se manifestou por meio de nota e disse estar dando todo o apoio à colaboradora “que foi desrespeitada enquanto trabalhava para que o evento pudesse acontecer”, narra o texto. “Racismo é um crime que precisamos combater e estar sempre vigilantes”.

Fonte: Agência Brasil/Vinícius Lisboa – Enviado especial* Paraty (RJ)
Edição: Juliana Andrade

Mais 2 homens são presos suspeitos de participar de ataques no Ceará

Com isso, chega a três o número de pessoas detidas

Mais dois homens foram presos por suspeita de participação em ataques a ônibus e prédios públicos que ocorre desde a noite de sexta-feira (27) em Fortaleza, segundo informações da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará.

Os homens foram identificados como Pedro Henrique Mesquita de Sousa, de 27 anos, e Oderison dos Anjos Oliveira, de 19 anos. Ambos já tinham passagem pela polícia. Não ficou esclarecida qual a participação deles nos ataques.

Ontem (28), a polícia prendeu um outro suspeito, dessa vez em flagrante. Gean Patrick Aguiar Lima, de 19 anos, foi capturado portando um galão de gasolina. Em uma outra ocorrência, um casal foi preso sob suspeita de também participar dos ataques, mas foi liberado em seguida, informou a secretaria.

Desde a noite de sexta (27), 11 ônibus e uma agência bancária foram incendiados. Também foram registrados disparos de armas de fogo contra uma agência dos Correios e ataques a unidades do Detran no estado. Coquetéis molov foram arremessados contra prédios da prefeitura de Fortaleza.

Segundo o secretário de Segurança Pública do Ceará, André Costa, os ataques seriam uma represália contra a morte de três criminosos em uma troca de tiros com a Polícia Militar na quinta-feira (26) num município próximo a Fortaleza.

À Agência Brasil, Costa informou que não há registro de nenhuma pessoa ferida durante os ataques, e que a tendência é que a situação se normalize. Nenhum ataque a coletivos ou prédios públicos ocorreu neste domingo, segundo a secretaria. O policiamento ostensivo segue reforçado, com o uso de agentes especializados e um helicóptero.

Fonte: Agência Brasil Brasília/Repórter: Felipe Pontes
Edição: Juliana Andrade

Congresso de saúde coletiva defende política de redução de agrotóxicos

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) lançou hoje (28), durante a 12ª edição do congresso da entidade, um dossiê atualizado sobre o uso de agrotóxicos no país. Denominado Dossiê Científico e Técnico contra o Projeto de Lei do Veneno(PL 6.299/2002) e a favor da proposta que institui a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pnara), o documento foi produzido pela Abrasco e pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), em meio às discussões sobre o projeto aprovado na comissão especial da Câmara dos Deputados no dia 26 de junho.

De acordo com o vice-presidente da ABA, Paulo Petersen, o dossiê reúne documentos relacionados aos dois projetos. “Compilamos um conjunto de manifestações de instituições acadêmicas e públicas, da sociedade civil e internacionais, como a ONU, e fizemos um comentário geral. Ele referenda, a partir de organizações científicas, manifestações científicas, mas que estão influenciando a arena política”.

Paulo Petersem, presidente da Associação Brasileira de Agroecologia – Tomaz Silva/Agência Brasil

Conforme Paulo Petersen, o chamado PL do Agrotóxico muda a legislação anterior, de 1989, tirando as possibilidades de regulação pública na área de liberação de novos produtos e na identificação e comunicação, “de modo a tornar ainda mais oculto os efeitos dos agrotóxicos sobre a saúde coletiva e sobre o meio ambiente”.

Pelo projeto, a liberação de novos agrotóxicos deixaria de passar pela Anvisa, Ministério da Saúde e Ibama, que avaliam os riscos à saúde ambiental e à saúde pública, e passaria a ter uma predominância do Ministério da Agricultura, que tem uma perspectiva muito mais econômica. Também substitui o termo “agrotóxico” por “pesticida” ou “defensivos agrícolas”.

“O princípio da precaução, que deve prevalecer no uso do conhecimento científico para liberação de produtos e certas tecnologias sobre a natureza, vai sendo comprometido. Na verdade, é um grande desmonte da uma legislação anterior que está funcionando e é uma referência internacional. O discurso de que estamos modernizando, desburocratizando, vai na contramão de toda uma discussão na sociedade, na academia e no mundo”.

O dossiê contém manifestações contrárias à flexibilização no uso dos agrotóxicos de instituições como o Instituto Nacional do Câncer (Inca), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

Pesquisador da Abrasco e professor da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, Marcelo Firpo afirmou que a discussão deve ser feita em torno do que é realmente relevante para o país.

“Sem dúvida, o progresso econômico, o desenvolvimento da economia, o pagamento das dívidas públicas e a redução do déficit da balança comercial são relevantes. Mas qual é o preço disso diante da morte e da doença de crianças, jovens, adultos, velhos e trabalhadores, que morrem em função de substâncias perigosa?”, questionou Firpo.

Marcelo Firpo, pesquisador da Abrasco – Tomaz Silva/Agência Brasil

Segundo ele, as mudanças propostas na regulamentação dos agrotóxicos representam um retrocesso no processo civilizatório, na garantia da saúde e da vida dos cidadãos. “É preciso esclarecer a sociedade o valor e os efeitos para a vida das pessoas, das famílias e para o sistema de saúde em decorrência do uso excessivo e que tornou o Brasil o maior consumidor mundial de agrotóxicos”, acrescentou.

A favor dos agrotóxicos

Entidades favoráveis à maior flexibilização para os agrotóxicos no país chamam o projeto de “Lei do Alimento mais Seguro”. O Sindicato Nacional da Indústria de produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) e a Associação Nacional de Defesa Vegetal (ANDEF) divulgaram nota em que contestam a informação de que o Brasil seria o maior consumidor de agrotóxicos do mundo.

De acordo com dados da FAO e da consultoria Phillips McDougall, o Brasil é o 13º país em uso defensivo agrícola por quantidade de produto agrícola produzido. Itália, França, Espanha, Alemanha, Inglaterra, Polônia, Japão, Coreia, Austrália, Canadá, Argentina e Estados Unidos se utilizam demais defensivos que o Brasil.

Segundo essas entidades, o “Brasil – um dos maiores produtores agrícolas mundiais – consegue fazer uso racional de defensivos agrícolas e produzir muito mais usando uma quantidade menor de defensivos que países considerados de primeiro mundo, mesmo em condições climáticas que favorecem a incidência de pragas e tendo múltiplas safras ao longo do ano, o que não acontece em países de clima temperado”.

Sobre o PL 6.299, a nota diz que a alteração “não exclui o rigor científico e a transparência no processo de registros, que são essenciais para segurança e desenvolvimento da indústria nacional”. Afirma ainda que “modernizar a legislação não significa flexibilizar ou facilitar o registro de defensivos agrícolas, mas sim incluir critérios objetivos na avaliação, respeitando metodologias científicas, que assegurem a competitividade da agricultura brasileira”.

Nota Técnica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento revela que, “muitas vezes”, o debate sobre o uso de substâncias químicas “têm pouco embasamento científico”. “A filosofia de risco zero não é adequada, pois mesmo uma substância que aparentemente seja segura, como a água, quando consumida em quantidade exagerada pode levar a risco de vida”, diz a nota do Ministério.

“Nesse sentido, os pesticidas são ferramentas essenciais à produção agrícola brasileira e à manutenção do seu alto nível produtivo. A necessidade do uso dessas ferramentas torna ainda mais evidente sua utilização de forma correta, segundo as orientações estabelecidas por ocasião do registro do produto, no sentido de minimizar possíveis riscos de sua utilização”, defende a pasta. Conforme o ministério, as mudanças são para modernizar os termos e procedimentos, incluindo o aumento das multas, de R$ 19 mil reais para até R$ 2 milhões, no caso de não cumprimento da legislação.

Segundo os dados preliminares do Censo Agropecuário 2017, divulgado quinta-feira (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 1.681.001 produtores rurais utilizaram agrotóxicos no ano passado, representando um aumento de 20,4% em relação a 2006.

O 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, o Abrascão 2018, termina amanhã (29), no campus de Manguinhos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Fonte: Agência Brasilundefined/Repórter: Akemi Nitaharada